Anta É Elogio – Dia Mundial da Anta

Se alguém dissesse que você é uma anta, provavelmente você iria se magoar. Mas não deveria. O dia 27 de abril é marcado pelo DIA MUNDIAL DA ANTA, e a anta-brasileira (Tapirus terrestris) é uma das espécies mais importantes do país e o maior mamífero terrestre da América do Sul. No mundo, há quatro espécies de anta: além da anta-brasileira, temos a anta-da-montanha (que vive nos Andes), a anta-centro-americana (encontrada na América Central) e a anta-asiática (Indonésia, Malásia, Mianmar e Tailândia).

O Brasil possui a maior especialista do mundo em antas! Patrícia Medici é engenheira florestal, mestre e doutora em conservação de vida selvagem, e se apaixonou pelo bicho há 25 anos! 

Patricia explica que, no Brasil, a anta vive diferentes realidades de acordo com os biomas. “Em boa parte do Pantanal e no norte da Amazônia a espécie está em uma melhor situação quando comparada às antas que vivem na Mata Atlântica e no Cerrado. Na Mata Atlântica, um recente estudo publicado pelo grupo de Patrícia mostrou que menos de 2% das populações de antas que vivem no bioma são viáveis no longo prazo. Já no Cerrado, as antas lidam com muitas rodovias e colisões constantes, caça ilegal e um risco elevado de contaminação por agrotóxicos, em função da expansão da agropecuária em larga escala”. 

As antas têm baixo potencial reprodutivo, incluindo um ciclo reprodutivo bastante longo com o nascimento de um único filhote após uma gestação de 13-14 meses e intervalos entre nascimentos de até três anos. Dessa forma a perda de um animal tem um impacto significativo para a conservação da espécie a longo prazo. 

Curiosidades sobre essa espécie incrível! 

Outra característica da espécie é o fato de percorrer longas distâncias. A anta vive em áreas de em média 800 hectares (cerca de 800 campos de futebol) e percorre entre 3 e 9 km/dia, levando sementes de uma área para outra. Uma floresta sem antas é uma floresta que corre grande perigo de extinção. Isso não é nenhum exagero! 

Pesquisadores também consideram a anta uma “espécie sentinela”, capaz de nos alertar para os riscos presentes no ambiente onde outras espécies da fauna, animais domésticos e comunidades rurais vivem. Estudos científicos realizados a partir de amostras biológicas de anta, tais como sangue, tecido, entre outras, têm identificado elevados níveis de agrotóxicos no Cerrado do Mato Grosso do Sul.  

A ciência ainda reconhece a anta como uma espécie guarda-chuva. Isso significa que uma vez que as áreas onde vivem sejam adequadamente conservadas, uma série de outras espécies também serão beneficiadas.  

Trata-se também de um dos mais antigos habitantes do nosso planeta (fósseis encontrados na América do Sul datam de 2,5 a 1,5 milhão de anos atrás). 

Espécie injustiçada: #antaÉelogio  

Apesar de todo os serviços que esse animal realiza, no Brasil, ele ainda é visto por muitos como um ser de pouca inteligência. “No entanto, a ciência já mostrou por meio de estudos que a anta tem um número elevado de neurônios e é um animal de extrema importância para a sociobiodiversidade. Essa percepção errônea sobre a anta afasta o interesse das pessoas pela conservação de uma espécie que está na lista vermelha de ameaçadas de extinção como vulnerável, tanto na lista nacional (ICMBio/MMA – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) quanto na internacional (IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza). Afinal, com esta associação pejorativa, como as pessoas podem desenvolver um senso de orgulho por este animal?”, questiona Patricia Medici, coordenadora da INCAB-IPÊ.  

A pesquisadora revela que a origem dessa falsa percepção (algo difundido apenas no Brasil) está no período colonial. “Quando os portugueses chegaram à costa do Brasil, conheceram a anta e pelo tamanho e porte do animal tentaram domesticá-la para o transporte de cargas. No entanto, como um animal selvagem, a espécie não se submeteu. Pelo fato de não conseguirem domesticá-la, passaram a relacioná-la a um animal de pouca inteligência, o que a ciência já mostrou que não é verdade”.  

Para desmistificar essa ideia, desde 2015, a INCAB-IPÊ conta com a campanha permanente de disseminação da hashtag #antaÉelogio. O objetivo é transformar essa injustiça em reconhecimento pela importância da espécie para a sociobiodiversidade. Campanhas nas redes sociais, camisetas, ações nas áreas de pesquisa estão entre as iniciativas realizadas por pesquisadores do projeto na busca por esclarecer essa fake news! Nos próximos meses, o público terá a oportunidade de conferir nas redes sociais da INCAB e do IPÊ, histórias reais acompanhadas por pesquisadores por mais de 10 anos na Fazenda Baía das Pedras, no Pantanal da Nhecolândia, no estado do Mato Grosso do Sul. A trama apresentará as histórias incríveis dos animais que participam da pesquisa nesse cenário paradisíaco! 

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